Coração de pai

Durante os cinco anos em que trabalhou na Delegacia do Meio Ambiente (Dema), em, Goiânia, o delegado Marcelo Aires Medeiros, 37, atendeu centenas de ligações e lidou com as mais diversas situações. Mas teve um telefonema que ele guarda na memória até hoje: o do Juizado da Infância e Juventude.

Era um dia normal de expediente, quatro anos atrás, quando Marcelo Aires recebeu a ligação. Após dois anos na fila de espera, foi avisado de que poderia, se quisesse, realizar o sonho de ser pai. Uma menina de 20 dias estava à disposição do casal (ele e a procuradora Cláudia) no Condomínio Sol Nascente.

Marcelo deixou a Dema correndo, mal viu que saiu derrubando mesas e cadeiras, e encontrou a mulher no trabalho. Juntos foram para o Sol Nascente, onde o amor desabrochou à primeira vista. Ao bater os olhos na pequena Giovana, toda enrolada em um fino cobertor, eles tiveram certeza de que aquela menininha não esperaria mais por um novo lar.

A entrada de Giovana na vida do casal já era esperada, pois, além de aguardarem na fila, fizeram cursos sobre adoção no Juizado e participaram de diversos grupos de estudos. Porém, faltava um detalhe para receber a criança em casa: preparar o quarto e comprar um enxoval.

“Como você nunca sabe se é menino ou menina, não tínhamos comprado nada, nem uma chupeta. E o Juizado nos deu dois dias para providenciarmos tudo”, explica Marcelo, visivelmente emocionado. Giovana foi apresentada numa quarta-feira e, na sexta, já estava na nova residência.

“Tivemos de ligar para os pais, amigos e outros parentes para ajudarem a comprar o enxoval. Numa gravidez normal, o casal tem nove meses para formarem o enxoval. Nós tivemos dois dias”, explica, hoje aos risos.

Mas a rapidez da “gravidez” não diminuiu em nada o amor do casal pela pequena. Pelo contrário: fez foi acelerar e amolecer o coração duro de Marcelo, acostumado com a rotina de violência e crimes nas delegacias de polícia.

“Giovana é a razão de a gente se esforçar corretamente no dia a dia, tentar ser o melhor possível com as pessoas. Filho dá uma razão a mais para a gente dar o exemplo, te dá mais responsabilidade, seus atos têm mais consequências. Você tem de colocar suas virtudes a frente dos seus defeitos”, ensina.

Mas o susto de ser pai e ter de providenciar um enxoval em apenas dois dias não foi o único percalço do casal nos primeiros dias de vida de Giovana. A pequena nasceu com um problema de visão e teve de fazer cirurgia logo aos três meses. “Ela tomou anestesia geral, foi uma situação muito difícil.”

Hoje, Giovana usa óculos com lentes de correção em torno de 10 graus. Porém, no ano que vem, após completar 5 anos, ela fará nova cirurgia que deve abrandar as lentes para algo em torno dos dois graus.

Mesmo com os óculos pesados para uma criança tão pequena, Giovana não se intimida com nada. Ela faz de tudo em casa e “reina” sozinha no lar. Tem tanta autonomia que já recebe os amiguinhos na sala de televisão sem nem ao menos precisar do “consentimento” do pai. “Ela é muito esperta. Fala o português perfeito e ainda está estudando inglês e espanhol. Sem falar que já sabe algumas palavrinhas em francês”, diz o orgulhoso pai.

Mas o reinado de Giovana no lar do casal Medeiros está ameaçado. Os pais continuam na fila e aguardam outra criança para adoção. Desde que adotaram Giovana, os nomes do casal continua na lista de espera.

Talvez por isso, já pensando que não será a única xodó da casa, Giovana vem abrindo seu pequeno coraçãozinho para um garotinho, o simpático Heitor, de 5 anos. Os dois estudam na mesma escola e são vizinhos de muro. Por enquanto, Heitor é o melhor amigo de Giovana. Mas é por enquanto…

Experiência em família

Com dificuldades para engravidar de maneira normal, Marcelo e Cláudia decidiram pela adoção de crianças. Experiência esta que não é novidade na família do delegado. “Tenho três primos adotados e convivo com eles desde a infância. As experiências foram bem sucedidas e por isso encaro com naturalidade a adoção.”

“O amor de um pai por um filho adotivo é incondicional. Não é mais e nem menos do que o amor de um pai biológico. Desde que eu vi a Giovana no Condomínio Sol Nascente, o seu batismo, a festa com os amigos no momento de sua chegada, eu sempre a amei”, continua.

Giovana, mesmo com quatro anos, já sabe que é adotada. A pequena, inclusive, comemora duas datas de aniversário: o dia em que realmente nasceu e o dia em que chegou à residência de Marcelo e Cláudia.

Sobre a nova criança que ainda está por vir, Marcelo diz não ter distinção de raça, cor ou idade. Ele, inclusive, torce para que surjam irmãos para a adoção. E pode até ser crianças com mais idade.

“Não vou forçar uma situação, até porque já tive a graça de conseguir uma adoção. Mas continuo na fila esperando. Acredito que a coisa vai acontecer no seu devido tempo”, explica Marcelo.

Camisa 10

Camisa 10 do time da Polícia Civil, Marcelo Aires quase se profissionalizou no futebol de salão. Dos 14 aos 18 anos chegou a jogar no time do Jaó, em Goiânia, e recebeu convites para atuar em São Paulo, Ceará e Espírito Santo. Mas o então atleta preferiu se encaminhar para os estudos e hoje o futebol é apenas atividade para suar.

Porém, diversão esta que ele vai ficar pelo menos um ano distante. No início de julho o delegado operou o joelho. Ele se contundiu durante uma pelada no condomínio em que mora. No dia da entrevista, inclusive, estava de muletas e proibido, por um mês, de colocar o pé direito no chão.

Quando mais jovem e sem contusões, o que obrigou Marcelo a dar uma freada nos esportes foi a faculdade. Ele foi aprovado para Educação Física e Direito ao mesmo tempo. Resolveu se dedicar à advocacia, uma vez que o pai é advogado. “Era fanático por esportes, mas sabia que Educação Física não me traria grandes salários.”

Marcelo formou-se em 1996 e chegou a advogar por dois anos até passar para escrevente judiciário no Fórum de Goiânia. Em 1999 foi aprovado em outro concurso, para a Polícia Civil, e tomou posse um ano depois.

“No começo, a Polícia Civil era indiferente pra mim. Pensava até continuar prestando concursos. Mas como tenho a tendência de focar nas coisas que faço, não conseguia trabalhar e estudar. E logo casei com a Cláudia, que passou para procuradora do Estado e iria trabalhar em Goiânia. Se eu passasse para juiz ou promotor, com certeza eu ficaria longos anos no interior. E não estava querendo isso mais”, diz.

A primeira lotação de Marcelo foi em Orizona, por dois anos. Depois foi enviado para Aparecida, por mais dois anos, até chegar a Dema, onde ficou cinco anos. Depois seguiu para o 9º DP, 14º DP e 1ª Regional, sua primeira função administrativa. Hoje está na Gerência de Planejamento da PC.

“Participar de uma administração é muito importante. A responsabilidade é grande e todo dia é um aprendizado novo. Nunca trabalhei tanto, é verdade, mas não posso desapontar as pessoas que confiaram em mim. É muito difícil fazer mudanças na polícia e estamos neste processo.”

No dia entrevista, Marcelo estava de licença médica, mas atendeu a duas ligações da direção da Polícia Civil. Mesmo em casa resolvia problemas internos da instituição. Num dia normal de trabalho, o delegado chega ao prédio da Secretaria de Segurança Pública pouco depois das 7 horas e só retorna para casa por volta das 19 horas. Não tira tempo nem para o almoço – come na própria sala em que trabalha.

Viagem

Viajar é o hobby preferido do delegado Marcelo Aires. Desde jovem sempre gostou de conhecer lugares diferentes. Aos 22 anos, logo após a formatura do curso de Direito, ele e outros dois amigos passaram três meses na Europa como mochileiros. Embarcaram com dinheiro apenas para as passagens de avião, metrô e hospedagem.

“Ficávamos hospedados apenas em albergue ou comprávamos passagens de trem para viajarmos a noite, assim economizávamos com hospedagem. Tínhamos uma alimentação muito resumida e ficamos na Europa até acabar o dinheiro. Ainda assim, conhecemos 15 países.”

Hoje, casado e pai de famílias, as viagens já não tem mais o caráter aventureiro, e sim o cultural. Marcelo adora explorar outras culturas. Já voltou três vezes a Europa e conhece os melhores lugares da América do Sul. No final do ano se prepara para levar Giovana para conhecer a Disney (EUA).

Perfil

Nome: Marcelo Aires Medeiros

Data de Nascimento: 28.09.1973

Local de Nascimento: Goiânia

Formação: Direito

Estado Civil: Casado (com Cláudia, filha Giovana, 4)

Ano em que ingressou na Polícia Civil: 2000

Lotação: Gerente de Planejamento Operacional

Livro: A Semente da Vitória, de Nuno Cobra

Filme: Seven, os Sete Pecados Capitais

Comida preferida: Arroz e feijão

Hobby: Viajar

Time que torce: Flamengo

Ídolo: Admiro Nelson Mandela

Sonho de consumo: Não tem

 

 

Retirado do site http://sindepol.com.br/site/quem-somos/coracao-de-pai.html

Advogada formada pela Universidade de Uberaba em 2001. Inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção de Goiás sob o nº. 20.975. Pós Graduada em Direito Civil e Processual Civil pelo Instituto de Estudo e Pesquisa Científica sediado em Goiânia/GO e em Direito Processual Penal pela UFG. Profissional atuante em diversas áreas do Direito, sendo que desde o início de sua carreira prestou serviços a escritórios de advocacia de renome no Estado de Goiás. Autora do artigo ‘Os direitos da esposa à luz do Código Civil de 2002’, publicado na Revista do IEPC, ano 2, nº. 3, 1º semestre de 2005. Membro da Comissão de Direito Ambiental da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção de Goiás. Atualmente é sócia do Escritório Guilherme Soares Advogados.

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